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Faze o que tu queres será o todo da Lei.

O Acampamento Olho do Sol surgiu como consequência do esforço de constituir uma representação como primeiro corpo local da Ordo Templi Orientis no Sul do Brasil. Trabalho este, não por acaso, fruto de encontros com o objetivo de organizar a possibilidade de edificar a Lei de Thelema.

Assim, em Curitiba (PR) e reunindo thelemitas de outros estados do Sul, “coincidiu” com a fundação do Acampamento Olho do Sol no Equinócio de 20 de março de 2020. Durante este curto processo, o corpo local pôde realizar atividades envolvendo alguns temas apresentados a nível nacional.

Reivindicamos o princípio da liberdade, um dos principais pilares thelêmicos, como uma nova filosofia e uma nova ética. É por esta filosofia que afirmamos o direito inerente de que “todo homem e toda mulher são estrelas” no fomento de construir as bases para uma ética individual conforme a sua Verdadeira Vontade.

É pela Sagrada Lei de Thelema que reconhecemos e discernimos os verdadeiros grilhões que restringem toda liberdade humana, à qual vivemos, principalmente, nestes últimos tempos. Mas liberdade, também resulta em assumir responsabilidade, exatamente o que caracteriza um ser humano livre, a fim de exercer plenamente a sua Verdadeira Vontade.

Nosso corpo local é, portanto, pautado por estes princípios da ética thelêmica, como um compromisso inegociável, e por meio destes valores, acreditamos na responsabilidade, irmandade e no respeito mútuo.

O Nome e o Lamen de nosso Acampamento reflete a importância que a simbologia e o conceito representam para nossa Ordem, neste caso, os elementos integrantes de Nuit, Hadith e Babalon.

O nome “Olho do Sol” representa Ayn (“olho” em hebraico), mas também a Cidade do Sol, isto é, Heliópolis (onde atualmente se localiza Ayn Shams, que em árabe também significa “Olho do Sol” , um subúrbio do Cairo). Como a palavra Ayn (“Olho”) em árabe é a mesma em relação ao hebraico, copta e egípcio antigo, nos remete diretamente ao Atu XV, sob a figura de Baphomet e o Ayn da carta, além de Tipharet.

Heliópolis era uma das principais capitais do Antigo Egito, o 13º nomo, também chamado de Heq-At ou “Cetro Prosperador” e conhecida também por outros povos como On (אן) à qual Aleister Crowley referiu-se como a “Cidade das Pirâmides”. Nos “Textos da Pirâmide”, de Unas, Heliópolis é descrita como a “Casa de Rá”. Neste sentido, a Casa de Rá também é a Casa de Deus, ou o Atu XVI, com o Olho (Ayn) em seu topo.

Além disso, Heliópolis fez parte de umas principais tradições iniciáticas, com sua própria cosmogonia baseada no surgimento de Atum a partir do Caos (Nun) e de Nut (Nuit), ascendendo a partir das águas primitivas, no Zep Tep (“o primeiro momento”), dando origem aos 9 Neteru (divindades). Eis a primeira montanha que se eleva das águas primordiais que nos remete ao Monte Coroado que surge no arcano do Sol (Atu XIX). Esse monte era chamado de Benben pelos antigos egípcios, em outra relação com o Ovo Cósmico, que emerge das águas primitivas. A gematria de Ἡλιούπολις é 706 (sendo 70 Ayn + 6 Sol = 13, Atu XIII).

E encontramos também a relação direta do nome “Olho do Sol” com a divindade feminina egípcia de Sekhmet, que traduzida, seria “Aquela que detém o poder”. Neste caso, o poder solar enquanto aspecto feminino, é algo novo nas tradições ocidentais, o que coloca em evidência a regência do feminino antes do masculino. O Sol em seu aspecto feminino, como portadora do Óvulo Cósmico, revindica essa lado de que muitas culturas, o astro é representado como divindade feminina.

Neste sentido, desvela-se um grande mistério. No Liber Resh vel Helios, também interagimos com o Sol enquanto feminino (na figura de Hathor). Na antiga tradição, o Universo é visto como um Grande Útero e o Sol, como o óvulo cósmico, e o Ritual do Liber Resh é um exercício de magia sexual, onde reverenciamos a hierogamia do mundo. Isto faz deste ritual muito especial, já que partes dele está contido em alguns capítulos do chamado “Livro dos Mortos”.

Nossa Ordem reencena uma aproximação real com muito destes mistérios da antiguidade, na relação dos graus do Homem da Terra, sendo que a função de todos estes ritos é compartilhar sobre os mistérios do nascimento, da vida e da morte.

Por isso, escolhemos o nome de Sekhmet para representar a força feminina, o poder, que contribui para a força do próprio Rá, o Sol Cósmico. Assim, Sekhmet, está representada pela mais antiga grafia de seu nome, em hieróglifos, como um sigilo de grande poder. E no hieróglifo de Sekhmet, novamente, a partir de um prisma thelêmico, a imagem iconográfica da serpente tem uma função importante como Hadith.

E mesmo Sekhmet também pode ser pensada em analogia a Babalon, como a devoradora e detentora do poder feminino e do masculino, ao mesmo tempo. Sekhmet, em uma possível lógica thelêmica, é o Sol no Sul (o Meio-dia), fazendo referência de que nos intentamos ser o “Sol” no Sul, um Templo para o Sol, o Sagrado Anjo Guardião de cada um.

Acima do nome de Sekhmet, está o Olho que na sua orientação, também simboliza o órgão sexual feminino enquanto zona de poder (centros energéticos), e como na mesma representação do Atu XVI, o “Olho que tudo vê”. Do ventre de Nuit, é gerado o Olho, sendo Ela, o próprio Lamen.

A Taça de Babalon, representa o Graal Universal, juntamento com o Sol de 11 raios, simbolizando a união. Todo esse simbolismo revelamos partes da conjunção de Babalon e a Besta, Nuit e Hadit, do sacrifício à Grande Obra, do Ser Devorado pela Deusa no Cálice. A Taça é como aparece na Missa Gnóstica, sendo o Bolo de Luz (o Sol) mergulhado nela, em uma imagem que encarna o altar e toda a jornada iniciática.

Os raios do Sol em número de 11, fazem a conjunção 5 + 6, 65 do Sagrado Anjo Guardião e Abrahadabra (11 letras). No Liber Al Nuit afirma-se que seu numero é 11 (o mesmo para Hoor-pa-Kraat e Ra-Hoor-Khuit). Os raios do Sol indicam adentrar no Útero, como no sacramento da Missa Gnóstica, o Bolo de Luz que é mergulhado.

Essas referências simbolizam o Mistério de Nuit e Hadith, o Khu e o Khabs; Nuit, antropomorficamente como uma mulher arqueada sobre tudo o que existe, e Hadith como o princípio masculino, ambos simbolismos destacados na Estela da Revelação.

Nu! O esconder de Hadit. Vinde! todos vós, e aprendei o segredo que ainda não foi revelado. Eu, Hadit, sou o complemento de Nu, minha noiva. Eu não sou estendido, e Khabs é o nome de minha Casa. Na esfera eu em toda parte sou o centro, uma vez que ela, a circunferência, é em lugar algum encontrada.

Liber Al vel Legis II:2-3

O nosso Lamen possui o vermelho-carmesim, que faz referência ao sangue e vinho de Nossa Senhora Babalon, tal como “Olho do Sol” (Sekhmet), que carrega toda a ligação com esses elementos do vinho e do sangue em seus antigos mitos. Além disso, também é o Santo Sacrificado no Cálice de Babalon, porque o Sacrifício, a Renúncia no Altar é o Supremo Hieroglifo da Grande Obra. Esse mistério se combina nas cores, do escarlate/carmesim com o dourado das cores solares.

Amor é a lei, amor sob vontade.