Liber CXXIV

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Do Éden e do Carvalho Sagrado: e da Maior e Menor Hospitalidade da O.T.O.

Uma Epístola de Baphomet a
Sua Excelência James Thomas Windram, Muito Santo, Muito Iluminado, Muito Ilustre, Iniciado do Santuário da Gnose, seu Vice-rei na União da África do Sul.

Faze o que tu queres será o todo da Lei.

Pareceu-Nos justos explicar de forma familiar e simples os princípios gerais de governo das Casas-de-Instrução de nossa Sagrada Ordem, de modo que o Abade e a Abadesa de cada uma destas casas possa entender por quais caminhos atingir as grandes metas que inspiram-Nos ao serviço de nossa Irmandade.

  • Sujeitos à disciplina geral da Ordem, cada Abade é mestre absoluto da casa da qual está encarregado. Muito do que se segue é, então, pura sugestão.
  • O primeiro princípio do crescimento da Ordem é o de que todos os seres vivos são modulação ou variação; a uniformidade é para ser detestada como um símbolo da morte. Assim, é esperado de cada Casa-de-Instrução que desenvoltas características próprias, sujeitas à certos princípios amplos, enraizados na natureza humana: e cada Casa-de-Instrução deve ser a expressão artística do gênio criativo e do verdadeiro caráter de seu Abade. Algumas assumirão a forma de um clube, outras ainda a de uma escola ou universidade, enquanto outras reservar-se-ão ao papel de orfanatos, colégios ou hospitais. Mas que cada Abade busque com diligência extrema a sua Vontade, e expresse a mesma nas regras particulares que ele possa criar para ordem de sua casa.

    Tipos de casas consideradas desnecessárias ou inconvenientes tenderão a desaparecer: estas que sejam consideradas em geral satisfatórias tenderão a multiplicar-se.

    Deve-se ainda ser entendido que as autoridades da Ordem encarregadas da disciplina das Casas-de-Instrução não interferirão na Vontade do Abade, a menos que ele mesmo se coloque contra sua própria Vontade, conforme expressada em suas obrigações solenemente tomadas com a Ordem, removendo os registros ou violando seus grandes princípios. A ruptura em sua própria Natureza assim causada deverá causar inevitavelmente a ruína de sua casa e autoridade evitando assim evitar o desastre ameaçado antes que seus efeitos se tornem manifestos.
  • Sobre o Éden e o Carvalho não é necessariamente o que eu lhe escreveria abertamente. Apenas nas casas em que o Abade tenha o Sétimo Grau esta questão manifestar-se-á. E é suficiente aqui dizer que a condição ideal será que cada Casa-de-Instrução deva entesourar quatro ou mais ministrantes dedicados à O.T.O. no sentido especial daquelas letras conhecidas dos mais altos Iniciados, e tais devem ser considerados na mais particular deferência e reverência, enquanto ao mesmo tempo o seus altos votos de serviço lhes proíbem que compartilhem diretamente ou indiretamente no governo da casa. Esta ordenança é precisa, e infração envolverá a remoção do Abade. Ele não manterá nenhuma comunicação íntima de qualquer tipo com os ministrantes supracitados, exceto conforme as condições de seu voto como Grande Inspetor Soberano Geral.

    O símbolo das Casas-de-Instrução é, ainda, um grande Carvalho do qual fluem torrentes de água a cada quadrante, fertilizando de fato o solo sob a colina e fortificando com umidade as raízes do próprio carvalho, mas não revoluteando sobre ele e solapando suas fundações.

    E na expansão deste Éden muitos homens regozijar-se-ão, tomando abrigo sob os ramos estendidos, e refrescando os seus membros cansados nas águas frescas da pura fonte celestial.

Alternativamente, o símbolo pode ser aquele de uma fonte no deserto, abrigado por quatro grandes palmeiras.

  • Familiaridade e vulgaridade não devem ser toleradas em nenhuma Casa-de-Instrução da Ordem. Dignidade e etiqueta devem ser estritamente observadas. A cada membro da Ordem deve ser lembrado continuamente que ele é um Rei vivendo entre Reis, melhor, um Deus na companhia de Deuses; e a alegria em si será reconhecida como um ritual de importância cósmica, tal como é dito que “As estrelas cantam juntas”. A chave para toda conduta, falando de modo geral, é tornar nobre cada coisa comum, cada coisa pequena, grande. Ao saudar um irmão, assim, pense ser esta a conversa entre dois poderosos monarcas em assuntos que afetarão o destino de impérios. Ria dos que pensam que isto é um faz-de-conta de crianças; esta é a base das boas maneiras. Zombe dos que se aproveitam da vaidade humana; vaidade é a mãe da autoconfiança; e esta é a mãe do poder. . Esses bobos que caem como Malvólio, deixe-os serem medicados pelo beijo áspero da terra, e se necessário for pelo riso honrado dos seus companheiros, pois isto não está longe da essência da Comédia de Pã. Mas nenhum homem será menosprezado; pois ele é um herói, depois de ter tomado sobre si mesmo o fardo da carne para a realização da sua Vontade. Bem sabe você que é dito, “Buscai a Beleza! Na Beleza está Verdade eterna revelada!”. O artista é aquele que pode descobrir Beleza em todas as coisas, pois nada é comum ou sujo; e por determinação invariável para descobrir beleza o homem vai ao céu através do artista. Por beleza, além do mais, Nós não estamos falando do tipo convencional de beleza sensual: isso jaz nos anões de Velasquez e nos monstros de Rabelais bem como nas mulheres de Titian e nos heróis de Homero; nem um irmão fará o outra coisa além de lamentar-se caso ele seja tão limitado na visão que não possa ver beleza naquilo que encanta outro.
  • Não existe nenhuma regra com respeito ao grau de luxo a ser observado em qualquer Casa-de-Instrução. Irmãos viajantes devem se acomodar alegremente tanto na tarimba de um Abade como ao edredom de seu vizinho: ambos podem ser um paraíso de amor ou sono, conforme a Vontade dele que ali se deita possa conceber: pois é nossa Arte descobrir êxtase em todas as coisas que possam existir. É ainda cardeal à porta de toda Casa-de-Instrução de nossa Ordem que nossa grande e secreta Arte seja desenvolvida pelas alegrias do trabalho. “Trabalhe e seja nossa cama o trabalho!” Como se sua labuta fosse a base do êxtase do Matrimônio dos Deuses! Toda Casa-de-Instrução é então de certa forma uma oficina, e uma certa simplicidade e severidade devem informar mesmo o luxo extremo. Sabedoria diz: sê forte! Então tu podes suportar mais prazer. Não sejas animal; refina teu arrebatamento! Se tu bebes, bebe pelas oito e noventa regras da arte: se tu amas, excede por delicadeza; e se tu fazes algo prazeroso, que haja sutileza ali!
    As regras de Higiene devem sempre ser observadas. Um homem sábio treinará para um jantar como faria para uma corrida. Para apreciar um carneiro Tibetano meio-morno, o prato mais nobre que conhecemos, é necessário passar fome durante seis semanas em uma geleira; e o homem que atingiu Pratyahara pode obter mais prazer dos movimentos de um músculo de seu pé que um milionário Ocidental da sua primeira temporada na Cidade de Nova York. Os luxos do rico não são para todos e há apenas prazer passageiro neles. É a Arte de Nossa Ordem matar a crença de que a felicidade e até mesmo o prazer vivem em coisas raras ou inacessíveis, pois isto é tanta tolice quanto a da criança que grita pela lua. É esperado então que o Abade de toda Casa-de-Instrução seja um Epicurista, um mestre do prazer, um instrutor nas delícias; e ele deve saber obter toda a alegria, e estar apto a ensinar aos outros como obter isto, por meios que estejam dentro do alcance de todos os homens, não suscite nenhuma inveja, e não procrie nenhum egoísmo. Asceticismo não é encorajado, salvo em seu velho sentido Grego de excelência suprema de condição física; toda denominada “negação de si” é Restrição, a qual é “A palavra de Pecado”. Não é “auto abnegação” para um homem recusar prazeres que firam a sua saúde; pois ele escolhe este curso para obter o maior prazer no bem-estar. Confusão de pensamento neste assunto é tão comum que Nós não temos nenhuma vergonha em explicar a verdadeira visão assim completamente.
  • Quando um convidado chega em uma Casa-de-Instrução, a primeira noite deveria ser reservada para fazê-lo três vezes bem-vindo, e deveria ser tanto quanto possível a Vontade de todos em aquiescer da Vontade do convidado. Na manhã seguinte ele se torna, como na frase comum, “um da família”, e ele se incorpora à rotina da casa. Membros do Sétimo Grau e Mais Altos são naturalmente recebidos com honras muito especiais.
  • Na teoria da Ordem, o direito do convidado em entrar em uma Casa-de-Instrução pelo período designado de três dias, quando a Loja do convidado está na mesma província da Casa-de-Instrução, ou um mês, quando está em uma província diferente, é supremo, e anula o direito do Abade de fechar a sua porta. Mas é um princípio principal da Ordem o de que poder e autoridade, enquanto teoricamente absolutos, só serão exercitados para o bem de todos interessados; e qualquer irmão que abusa do grande privilégio de hospitalidade por fracasso observar tato, cortesia e deferência para a conveniência e desejos do Abade a quem ele propõe visitar ficará sujeito à disciplina da Ordem. É evidente que aqueles que não abusam assim da hospitalidade se acharão bem-vindos em todos os lugares.
  • Abades dessas Casas-de-Instrução que aproximam o ato tipicamente doméstico agradavelmente à Nossa vontade, recebendo todas as noites pelo menos uma pessoa que não é um membro da Ordem, deve a esse aplicar-se, e oferecendo-lhe gratuitamente comida e abrigo. Se ele estiver em necessidade de assistência de qualquer tipo, isto deve ser dado alegremente; como por exemplo caso deseje achar trabalho, ajuda deve ser disposta se for possível fazer, contanto que sem danos para os interesses dos membros da Ordem. Isto não deve ser considerado como caridade, mas como um tributo ao heroísmo de alguém que encarnou em um mundo cuja visão é ocultada do não-iniciado pela a venda chamada “Sofrimento”.
  • Todos os residentes nas Casas-de-Instrução da Ordem são formalmente chamados a executar as quatro Saudações diárias ao Sol como prescrito em Liber CC (Equinox Vol I, No. VI, p.29). A exceção é, quando realmente empenhado em uma cerimônia aprovada pela Ordem, como iniciação, invocação ou meditação.
  • O uso de luz artificial, com exceção de propósitos cerimoniais, será desencorajado nas Casas-de-Instrução da Ordem; pois o Sol é o mestre do ciclo de vida. A exceção é quando trabalho intelectual sério está sendo executado. É esperado que por este regulamento a bênção da visão normal possa ser restabelecida à humanidade dentro de algumas gerações.
  • Espera-se que todos os residentes nas Casas-de-Instrução da Ordem cooperem de alguma forma no serviço da casa, de acordo com a suas capacidades e inclinações. O Abade será excluído desta regra, e ele apontará cada tarefa à pessoa melhor provida para executá-la. Ele dará a este trabalho todo o tato o qual possua; mas os outros vão por sua vez demonstrar alegre obediência como um ponto de honra, considerando um privilégio realizar sua tarefa, mesmo que pareça desarrazoado ou injusto. Tal conduta tem suas recompensas no reconhecimento geral outorgado a isto, e esses que tiram proveito da vontade de outros acharam suas perdas não somente em bons relatórios, mas na deterioração geral do caráter que acompanha a indolência.

    A autoridade do Abade é suprema; e ele pode usar tal disciplina como ele possa julgar justo fazer.

    Mas na maioria dos casos, quando qualquer pessoa se recusa em executar uma tarefa designada, é suficiente o Abade ordenar a todos outros que sigam o exemplo. Se uma roda emperra, deixe a máquina inteira parada até que ela fique livre. Na prática este método pareceu funcionar com grande perfeição. Depois de dois ou três incidentes deste tipo, o problema não mais ocorre; caso contrário, o Abade deve considerar bem se não está seriamente em falta com a justiça ou a consideração.
  • Espera-se que os membros da Ordem que fazem uso de qualquer Casa-de-Instrução se ofereçam para pagar os seus entretenimentos a uma taxa cem por cento mais alto que aquela vigente para entretenimentos semelhantes no distrito. Mas o Abade não extorquirá ou esperará tal pagamento, exigirá de seus convidados um presente. O conflito será decidido por consideração das posses relativas do viajante e da Casa-de-Instrução. Assim deixa-se que substancial justiça seja feita por meio de contenção da generosidade, em vez de mediocridade social.

    Pagamento nunca é aceito para qualquer estranho recebido somente por uma noite sob cláusula 8, mas caso tal pessoa deseje unir-se à Ordem, ele pode ser iniciado na Loja adjunta a Casa-de-Instrução de acordo com as Leis da Ordem, e então são-lhe dados todos os seus privilégios.
  • As Casas-de-Instrução da Ordem não serão distintas de qualquer forma das outras casas da vizinhança, exceto aquelas que são dedicados a propósitos especiais, as quais vão ou não serem feitas conhecidas aos estranhos como o Vice-rei da Província possa decidir.
  • Toda Casa-de-Instrução deveria desenvolver fortemente sua própria tradição específica, e a individualidade daquela tradição, por meio da iniciação de costumes peculiares a si mesmas. O modelo pode ser um manicômio ou uma universidade, um convento ou um bordel: isto não importa em nada; força intrínseca e poder de adaptabilidade ao ambiente vão sobreviver e crescer. Mas intensidade de tradição e peculiaridade de costume tenderão a limitar o crescimento e impedir de atingir proporções de difícil controle. Comunas, em lugar de cidades, desenvolverão a partir de cada casa de origem. Ainda o interesse apresentado em geral à Ordem pela individualidade de cada casa estimulará os Irmãos em visitar e assegurar o intercâmbio constante de ideias. Mais adiante, a peculiaridade de costume criará espírito-de-corpo e generosa rivalidade tal como agora prevalece entre as Universidades de Oxford e Cambridge, devido à aplicação dos princípios acima expostos.
  • É impossível declarar em uma epístola o que deveria ser apropriadamente o assunto de um grande tratado; e assim pareceu-Nos bom meramente anotar rapidamente pensamentos casuais que poderiam provar ser de interesse não tanto a você somente como àqueles que, desejando informação adicional com respeito às peculiaridades de nossa grande e santa Ordem, possam inquirir de você acerca de nossas regras.

Agora não há lei além de Faze o que tu queres: e o objetivo das regras é então somente assegurar a todos os homens as melhores condições para a execução de suas Vontades.

Amor é a lei, amor sob vontade.

A Glória do Pai de Tudo esteja em você, e Alegria indescritível no poder d’Ele que nós temos conhecidos.

Com nossa bênção paternal

Baphomet

Autor: Aleister Crowley